Pensamento: Natureza Viva

Natureza Viva

É estranho ver todas essas cores espalhadas pelo céu, quando tudo o que penso e sinto é uma escala de cinzas infinitos. 

O vermelho é tão vivo, o laranja tão quente. Mas o sol os está arrastando para debaixo dos meus pés, onde não posso observar. 

Olhe esse azul. Nem o negro da noite vem me visitar. É só este anil profundo que preenche o espaço. Esperava que a lua me trouxesse a palidez vazia, mas o branco que exibe é tão belo e brilhante. 

Onde estão as tempestades? Os ventos? Essa brisa calma e fresca parece tão aconchegante. É como se o universo zombasse de mim em cada detalhe, com tamanha calmaria e beleza, ressaltando que nunca estarei assim tão bem. Ou talvez seja apenas uma tentativa de osmose. Quer me mostrar que é possível.

E como é possível que meu corpo permaneça intacto suportando esse turbilhão? A terra se mantém ao passar das estações, renovando suas partículas, a vida se mantém. Existem furacões e terremotos, tudo fica uma bagunça, mas com o tempo as coisas voltam a funcionar. O sistema se reorganiza. Algumas catástrofes são inesquecíveis, é claro, mas não impedem que reapareçam as rotinas. Ficam as cicatrizes, os destroços, as crateras, que podem ser contornadas no dia-a-dia. Sabemos que sempre estarão lá, mas cada vez mais rasas.

É inverno aqui dentro. Tudo que posso fazer é esperar. Esperar até que o frio me consuma, ou esperar até que venha uma nova estação.

Correr. Seria bom ir para longe, mas como? Para onde? Minha sombra faz parte de mim como um órgão vital, não tem para onde fugir, não é possível se esconder. Faz parte do equilíbrio. Não existe luz sem trevas. Não é possível ser feliz sem ter provado o gosto amargo das lágrimas.

(Juliana G. Souza, 2013)